quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Ressaca Democrática

No dia 27 de outubro de 2014, acredito que grande parte do Brasil acordou de ressaca. Não somente pela disputa eleitoral, em si, mas principalmente pelo desgaste causado pela guerra da prepotência.

Tão feio quanto clamar a separação entre o Norte e Sul do país, por sinal o protesto mais triste que ouvi, foi provocar a oposição permitindo o choro dos “reaças”. Como se a candidata eleita fosse governar só para aqueles que votaram nela, como se alguém fosse desprezível por exercer o direito que é igual a todos.

Apesar de tudo, essas foram as eleições mais emocionantes que presenciei. E também a mais democrática. Experimentamos o gosto novo da incerteza e espero que ele motive a melhora no governo que se estendeu. O povo, através das redes sociais, movimentou a disputa. Confesso que não assisti as discussões que gostaria. Falta de educação, fanatismo, prepotência e pouca fundamentação sobressaíram. Mas acredito que, como nossa democracia é jovem, o povo está aprendendo, e se adaptando, a caminhar nesse terreno. As atrocidades pronunciadas fazem parte da imaturidade democrática, que somou-se à liberdade de expressão e ao respaldo da falsa segurança proporcionada pela tela do computador. Ainda assim, é válido! Mas que haja progresso! E que não se espere uma democracia digna quando não se sabe respeitar a opinião que diverge.

Em meio ao caos, aqueles que foram serenos, sem ser indiferentes, foram heróis. Algumas rosas “nasceram no asfalto” e trouxeram a serenidade, sensatez e esperança que estava escassa.

No fim, a desagrado de quase metade da população, foi feita a legítima democracia. Que seja respeitada, então! Todavia, importante lembrar que a escolha democrática não está atrelada à inexistência do erro. Em razão de tal possibilidade, fundamental a sua vigília. Porém, numa nação que tomou a disputa presidencial como briga pessoal, necessário se faz maior cautela e discernimento sobre o que de fato está errado ou que simplesmente desagrada por motivos de somenos importância.

No mais, que honremos o rumo escolhido pelo povo, sobretudo através de nossas condutas diárias. Com o tempo, o luto se dispersa, a euforia enfraquece e a vida volta à normalidade. Que na normalidade sejamos dignos do país e dos governantes que gostaríamos de ter. Quem sabe, assim, essa tal de democracia representativa reflita, lá no miolo do Brasil, aquilo que somos, ou passaremos a ser. Que o reflexo, por meio de nossos representantes, seja de brasileiros honestos e honrados. De repente, dessa forma, o “jeitinho brasileiro de ser”, gradual e naturalmente, vá perdendo espaço na representação. Que o asfalto vire jardim e só se enxergue flores. Que o ódio, nos protestos e na votação, dê lugar à propagação do bom exemplo.

Pois que não esperemos uma nova espécie de políticos a surgir, mas que trabalhemos duro na mudança do objeto de reflexão. Afinal, tratando-se de democracia representativa, é provável que tenhamos os governantes que merecemos ter.

Portanto, para que nos orgulhemos do reflexo a brilhar no céu predominantemente azul que envolve a Praça dos Três Poderes no Planalto Central, e demais sedes governamentais, temos que saber que a mudança não pode depender de uma só pessoa! Do povo que assume uma postura honrada é que surgem representantes virtuosos. Afinal, quem é que rege a democracia?

Letícia Marcati, 02 de novembro de 2014.

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