quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A melhor herança: nós!



Se há uma coisa que me desperta a curiosidade e muito me fascina é a capacidade animal de transmitir traços e características, de tal forma que em cada descendente doamos um pouquinho de nós.

Fico feliz quando me falam o quanto pareço com minha mãe. Me é motivo de orgulho carregar a aparência de uma pessoa que fez minha vida e a adoçou com tanta ternura, carinho e amor. Gostaria, inclusive, de ter sugado mais suas características, principalmente no que diz respeito à alegria, à capacidade de ignorar o que chateia e sorrir para tudo. Possui a característica única de não sentir nem guardar rancor. Só sabe amar! Quem diria! Nessa vida também temos que aprender o “não saber”? É fundamental não saber guardar rancor, não saber reclamar, não julgar, nem odiar...

Fisicamente me pareço com a mãe. Basta, porém, me conhecer melhor. Se olhar para dentro de mim, sou feita pelo meu pai. Sou santista e comilona assumida. Dentre outras características, sou intensa como ele! Neste exato momento fazemos a mesma coisa: ele escreve de lá e eu, de cá. Como nos deliciamos com isso! Também gostaria de ter herdado mais: sua inteligência, generosidade, brilhantismo. Meu pai é tanto que, diferente de todos os outros, recebe um nome que resume tudo o que é. É Nino! Um Nino que só nós temos.

É fascinante observar essas heranças. Chego a ficar boba! Minha mãe não se parece tanto com a minha avó na aparência, mas ambas tem o mesmo jeitinho, que me encanta! Meu avô paterno se espalhou nos netos. Fisicamente, está em meu irmão. São iguais da estrutura óssea ao sorriso. Através de meu irmão vejo o Geraldo sorrir e colocar a língua sobre os dentes diariamente. Já em mim ele vive através da música, a qual fez a vida dele feliz e dá sabor à minha! Toda a família se orgulhava ao vê-lo tocar saxofone na banda da cidade. Hoje seu instrumento me pertence. É inevitável não lembra-lo a cada sopro. Ainda guardo sua velha e enferrujada caixinha de palhetas. Se as notas musicais não o trás para dentro de mim, a caixinha não falha!

Minha irmã é um mix. Herdou muita coisa, de muita gente. É atenciosa como os avós, inteligente como o pai, divertida como a mãe, linda com só ela!

O que mais adoro em tudo isso é que me sinto um pouquinho de todo mundo! E no futuro vou poder matar a saudade dos ausentes através dos filhos e sobrinhos que terei. Por hora vou reconhecendo meus criadores em meus irmãos e em mim mesma.

Quando sou doce, sou Vô Geraldo. Quando curiosa, Vô Hélio. Alegre ou atrapalhada, não há duvidas: sou minha mãe! Se faço bolos, minha Vó Lourdes. O fato de repudiar e nem conseguir se quer idealizar desonestidade é porque sou neta da Dona Elvira.

Quando me isolo e fico a sós com meu violão, Geraldo novamente. Às vezes sinto necessidade de sair da cidade, abandonar a tecnologia e os barulhos. Vou pro meio do mato, de bicicleta, e quero subir no topo das montanhas, sentir a brisa e a paz entrar em mim. Da mesma forma, tem dias que preciso nadar no rio, mar ou tomar banho de cachoeira. Quando esses dias chegam, não importa ser inverno, meu corpo pede, respeito e vou. Sou eu, puramente Hélio.

Sou italiana e um pouco portuguesa, mas acima de tudo, brasileira. Foi aqui que meus ascendentes decidiram viver e defendo essa escolha como se minha fosse! No meu patriotismo sou Nino. Sabemos das imperfeições da nossa terra, mas a amamos. E, como todos os que amam, queremos bem a coisa amada. Quando criticamos é bronca de pai e mãe que quer o melhor para o filho. É crítica que convida à revolução, diferente daquela que só quer gerar revolta e mal estar comum.

É assim, cada um carrega em si um pouco daqueles que o antecederam. Entretanto, é na personalidade nova, única do seu ser, e embaralhada aos traços da família que as pessoas se tornam excepcionais, especiais, lindas de todas as maneiras.


Não digo que sou abençoada por ter uma família linda e especial. Não somos interessantes para todos! Digo convicta, “sou abençoada simplesmente por olhar para os meus e achá-los lindos e perfeitos para mim e para o meu crescimento como pessoa”. Se realmente somos tudo isso, pouco importa. Importa haver amor!

Letícia Marcati, 24 de julho de 2012.

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