quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Fanatismo político: entrave aos ventos de mudanças


Meus olhos veem meu país escrevendo páginas novas em sua história! E jovens e esperançosos enxergam uma possibilidade fértil para melhoras e progresso.     
   
No entanto, como todo complexo livro, as páginas felizes se cruzam constantemente com as infelizes e nem tudo são flores. Haja esforço para enxergá-las, sobretudo nesse momento, no qual encontro-me dividida pela euforia de ver investigações à corrupção caminharem positivamente, bem como “colarinhos brancos” sendo tocados, e pela angustia de assistir o povo nutrir seus protestos com maus, e perigosos, argumentos.
Em síntese, o circo estava armado desde sempre, os bastidores estavam (e ainda estão) a todo vapor, parte da cortina caiu, assistimos o show. O público, que também sujou um pouco a sala, foi embora. É hora da estafante limpeza. Minuciosa! Que não se enganem, há muita sujeira não aparente corroendo o ambiente: que os filhos dessa pátria mãe tão distraída não continuem errando cegos pelos continentes, encerrando, assim, a sugestão de Chico Buarque, em composição datada de 1983, quando o Brasil vivia um cenário – fisicamente - diferente.
Filosofias à parte, além da porca corrupção, há algo muito preocupante e merecedor de atenção: o fanatismo político, ameaçador à possibilidade de melhora e progresso, o qual desponta desvirtuando as manifestações que clamam o fim da impunidade.
Todos nós desejamos ver políticos corruptos serem julgados e condenados. Porém, o tema é demasiadamente sério e importante para ser tratado com ódio, obstinação e sede de “justiça a qualquer custo”, até - e simplesmente - porque “justiça a qualquer custo” não é justiça.
Importante ressaltar que de maneira alguma defende-se a situação, o contrário: luta-se e espera-se pela conclusão bem sucedida de todos os procedimentos inquisitivos e judiciais iniciados. Não obstante, quer se chamar a atenção ao caminho perigoso que se está percorrendo ao associar a corrupção a um único partido. Por Deus, seria ótimo se assim o fosse, suspeito, porém, ser precária tal hipótese! Não vislumbro diferença na índole da situação e da oposição, as exceções que me perdoem pela generalização, e vejo um tombo grande na nossa democracia se o ímpeto que move os protestos não se corrigir: não se deve combater pessoas, deve-se combater a corrupção! A consequência será algemar as mãos sujas e as pessoas que as carregarem.
Que o pleito pelo fim da impunidade dos colarinhos brancos não se motive nas características pessoais dos suspeitos; em não ser aquele no qual votou; na insatisfação com o governo; ou qualquer outro motivo relacionado à pessoa do investigado ou ao grupo que integra. Lembrando-se que é direito de cada um o “não gostar”, isso só não deve ser o fator motivador de protestos de natureza condenatória, pois que perigoso à democracia, além de altamente falho tendo em vista sua superficialidade. A condenação deve advir das barbáries cometidas, dos fatos. E que a regra se aplique a todos que também os cometeram. Do contrário não é justiça, é vingança por mesquinharia.
O que se vê é uma constante justificação dos fins pelos meios, e nem sequer está sendo focada a finalidade boa o bastante. Nesse caso, só restará atentados contra a democracia e todos sairão perdendo.
A sociedade - que idealmente deve ser una - dividida em “times políticos”, ou integrando o “time do ódio”, cegando-se para provar que tinha e tem razão é imaturidade política. Relutar contra opiniões e apontamentos políticos divergentes daqueles que uma vez concebeu é imaturidade democrática. O problema: fechar-se para todo o resto. Esquecer a finalidade boa o bastante: combater a corrupção (e não só a corrupção praticada por fulano).
Que não se trate política como jogo de futebol. Salvo no caso de ser o povo o juiz, numa partida em que os “times políticos” se esforçam para ganhar o respeito de um árbitro que é íntegro e exigente.
Há de ter muito foco e persistência para limpar essa sujeira toda, principalmente pelo fato de que a verdade aparente é só a ponta do iceberg. É difícil sair ileso da imparcialidade que ataca de ambos os lados. Acredito, porém, que basta não macular os discursos com ódio, preconceito, arrogância, prepotência, sentimentos típicos do fanático. Basta simplesmente desejar, clamar e lutar pela justiça, se nutrir em várias fontes de informações e não perder a esperança de vista.
Condenar um corrupto, independente do fator motivador, não será um avanço se vendarmos os olhos para os outros que ficaram atrás da cortina que não caiu, deixando estes criarem raízes e se fortalecer. Seria, apenas, tampar o sol com a peneira. Inócuo, portanto. Afinal, queremos só nadar ou queremos chegar na praia?
Em meio a tanta imundice, já que não se limpa sujeira com pano sujo, que protestemos de forma digna e esperemos que a dignidade do povo atinja os três poderes. Se queremos honradez de nossos representantes, que lutemos por isso de forma honrada também. 
Por fim, apesar de toda essa preocupação, pois embora os tropeços nos ensinem coisas preciosas, em se tratando em tropeços coletivos as marcas são mais difíceis de serem apagadas, mantenho-me esperançosa:  estou lendo páginas inéditas que aumentam o brilho dos meus olhos! Mas insisto: troquem o ódio por amor. Depois, não parem de protestar, jamais!

Letícia Marcati, 10 de março de 2016.

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