Acho
que todo mundo na infância já passou por esse dilema: “qual “super-poder” você
gostaria de possuir?”. Tinha que escolher só um. Era uma escolha difícil. O
poder de voar era tentador, assim como ficar invisível, ler pensamentos ou
atravessar a parede. Mas, decidida, sempre quis ter o poder do tempo. Quando
criança seria o máximo parar o tempo, principalmente nos dias de provas. Ou apressá-lo, quando não via a hora de brincar. Hoje em dia, continuo com a mesma
escolha: gostaria de poder controlar o tempo. O que mudou, com a maturidade
(esta não suficiente para eu deixar de pensar em “superpoderes”), foram as
razões da escolha.
Hoje,
porém, eu jamais pensaria em adiantar o tempo. Poderia até descartar esse
elemento. Seria suficiente pará-lo e voltá-lo. Eu iria ser uma ótima detentora
desse poder, pois não iria utilizá-lo para alterar nada em minha vida, apenas
para reviver bons momentos, paralisar outros. Dar “pause” em alguns sorrisos,
beijos e abraços. Reviveria qualquer data dos meus sete anos, algumas viagens
que fiz e alguns momentos que, mesmo intactos em minha mente, seria ótimo viver
novamente, do jeitinho que foi, sem tirar nem acrescentar nada!
Uma
vez por mês eu voltaria no tempo. Abraçaria meus avôs, brincaria na rua até
meus pés ficarem muito sujos ou minha mãe me chamar falando que "já está muito
tarde". Iria para escola, brincar, aprender e ter longos recreios. Brincaria
de "lutinha" com meu irmão até eu não aguentar e pedir “penico”. Mancharia minha
boca comendo caju pela primeira vez. Beijaria meu papagaio que ficou no meu
passado, cujo bico tinha um cheirinho único, de frutas e semente de girassol,
os pezinhos, um geladinho gostoso, e os olhos cor de mel, um doce igual ao da
sua cor!
Eu
iria brincar, pular, correr e gritar como quem sabe que um dia as energias
infinitas de criança se acabam.
Quem
sabe, após esse texto o congresso dos super-heróis não decide me dar esse
poder! Até lá, vou vivendo da melhor maneira que posso, estando sempre onde
quero estar, fazendo o que amo e tentando fixar em minha mente mais coisas boas
do que ruins, de maneira que os bons momentos fiquem nítidos em minha memória e
prontos para me fazerem viajar no tempo quando eu bem entender ou quando cheiros,
músicas e gostos me surpreenderem ao me transportarem instantaneamente para
alguma época da vida. Quanto aos maus momentos, que eu guarde o aprendizado. E
nada mais.
Letícia Marcati, 02 de Julho de 2012.
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