terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O canto da criança

Grotto Azzurro, Amalfi, Itália. Julho, 2017.


E de repente eu estava ali, crescida, pronta por fora, dependente só das minhas vontades, que me puxavam, com um canto hipnotizante, para o outro lado do mar. De repente, estava eu do lado de lá, olhando para o lado de cá e pensando “quanto mar!”. Foi assim, bem de repente, que eu era menina e era mulher, num só instante de contemplação. Integrando aquilo que descobri ser a minha canção. Segundos infinitos...Quando alcancei a minha menina e ela sossegou na eternidade daquele momento. Mas, moleca, correu. Pois, corre assim: de repente. E canta, não chama. E sempre “lá vou eu!”. Andar um monte, despir-me do que tampa meus ouvidos, para encontrá-la quando ela achar que estou capaz. E em silêncio cantarmos juntas qualquer momento que se faça eterno. Pois é quando a gente se encontra com nosso passado e o nosso presente, sendo tudo o que queríamos ser, por um segundo imenso, que morremos (para o raso) e nascemos (para o novo). De novo. E sempre.
A plenitude tem esse momento ápice importantíssimo. Quando a menina sossega. Te abençoa com um instante de certeza. E te fala: “Olha! Tudo vale a pena!”.

Letícia Marcati.