quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Flores e Livros



“Obrigada, meu pai! Obrigada, minha mãe”, ela disse:
Por enfeitarem meu lar com flores
E livros que me ensinaram a amar.
Sem me forçar,
Mas sempre a me lembrar,
Que nas prateleiras
Estavam tesouros que dinheiro algum
Jamais poderia inteiramente comprar.
Como “quem não quer nada”,
Estavam lá:
As flores a encantar,
Os livros a chamar.
Na minha imatura idade, o engatinhar.
A cegueira tentando se instalar,
Não encontrou sementes semelhantes para, de fato, germinar.
Ou espaço onde pudesse se enraizar.
Já que o solo foi regado com a nobreza
Daqueles que lutavam para superar as mazelas das próprias pequenezas,
Pois que sabiam que todo mundo algumas - ou muitas - carregam,
Mas que o novo não merecia nascer já maculado por elas.
Um dia,
As flores começaram a me falar.
Os livros, a se realçar nas velhas estantes.
Foi quando comecei a nascer
Para as responsabilidades que é aqui estar.
Não é fácil lutar
Contra a preguiça de despertar
Todos os dias cada dia mais.
É, no entanto, compensador
Encontrar amor neste perambular.
Entre cegos e feridos,
Sem cansar,
Sempre a buscar,
Alcançar e semear.
Esvair pequenezas,
Superar preconceitos,
Construir-se ético.
E toda vez que o novo estiver para nascer
Possibilitar-lhe o início imaculado.
Que chegue com vivacidade lídima
Para vencer as lamas inerentes a todo caminho.
Flores e livros podem trazer-lhe um frescor,
Que armas e fogo a séculos de distância
Não conseguem sequer deixar de sujar;
Quanto mais, possibilitar.
Foram flores e livros!
Ou livros-flores.
E todas as obras daqueles
Que ouviam o canto
Da semente de amor que queria
Desabrochar.

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